quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A CHEGADA

Era um mar sem fim
não tinha horizonte que o parasse
de onda em onda surfou
até que morreu junto á janela.
Uma casa de pedra e pau e sim
havia flores e musgo que bastasse
Nada havia mudado desde que o mar parou
era a casa dela
um amor que nunca feneceu
Contadas estrelas luas e sóis
a sombra passada voltara a esse céu
de novo haveria festa e lençóis
um enterrar das saudades desse corpo
um renascer da madrugada
esse rasgo sem luz nem nada, que absorvo
esse amor que singro com a minha amada.


Jorge d'Alte

terça-feira, 17 de setembro de 2024

INCÊNDIOS

 A terra gritou
tossiu no fumo
Havia fogo por todo o lado
houvera uma mão que ateou
numa loucura sem rumo
um arder como fado.

Espectros de carvão 
tinham sido homens, árvores e vegetação
os montes negros e carecas soluçavam
resinas medravam nas cinzas que esvoaçavam.

Talvez renascessem nas sementes
Talvez se os homens deixassem
os montes seriam floridos e verdes
talvez as crianças de novo tementes
abraçassem
trepassem essas paredes

cozendo o seu futuro
num pensamento de ar puro.


Jorge d'Alte

sábado, 14 de setembro de 2024

O QUE SERIA

O que seria
o que queria
viera do vento
qual folha sem tempo
tisnada e madura
como fruta de verão
olhos das profundezas
esmeraldas raiadas num sorriso
tentadora enrolou-se no meu corpo
quente e ébria de desejos
misturando línguas e lábios num beijo
percorrendo cada palmo do meu corpo
até chegar ali
estrangulou-se num gemido
partiu louca como vento batido
levando-me com ela pobre galho arrancado
num prazer não descrito.
Quem seria
porque bulia 
adejando no ar a sua fantasia.
Assim me cativou
numa prisão de paixão
naquela noite sem lua.
Depois como veio se foi
um floco de neve  perdido
que por ter caído na terra se evolou.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

CHARRO

A noite nascia no pôr do sol
caminhando pesarosa para me estrangular.
Esse era o meu medo na roleta de tantos
e nem a lua gorda no se manto branco
me distraiu da tristeza, da solidão, do copo
esquecido numa mão gelada de suores frios.
Gemi na surdina do silêncio no abafar dos pios
estava só no meio das sombras marionete dos desejos.
Pensava eu que eram sonhos este abafar sem cor
formigando no meu ser como se fosse beijo
mas não era
seria se fosse magia
uma pele nua
uns mamilos espetados
um corpo teso e enrolado
uma confusão de pernas e braços
uma língua que explora.
Sacudi a cabeça sem energia tentando afastar as sombras
eram medos e medinhos fios que me prendiam nessa noite.
Acendi um cigarro
aspirei o fumo
soprei-o na aflição
num fumo enrolado
um sonho encantado que me tornou luz
e sem me conseguir apagar fiquei ali pregado
atiçado como tição até ser apenas a cinza de um charro.


Jorge d'Alte

terça-feira, 10 de setembro de 2024

ERA UM DIA COMO TANTOS

Era um dia como tantos
com o sol no sitio certo
havia brisas sopradas por ali
sem mares nem rios, apenas terra
havia o verdejante morro
havia fumo saindo de uma chaminé.

Era a casa dela cheia de encantos
branca como ela e por decerto
cheia do seu calor pois vivia ali
prometendo o céu e a terra
um lar cheio de amor para onde corro
pegando nela beijando essa flor que é.

Meus lábios formaram o jeito do beijo
abraçados dançamos no penumbrento quarto
caímos por amor no leito frio e branco
conversamos com os olhos o nosso desejo
havia no ar o suor do amor que reparto
vindo lá do fundo que da alma arranco.



Jorge d'Alte

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

CUMPLICIDADE

De todo o lado caem
coisas duras que atormentam
solidão, tristeza, infelicidade.
Não sei como combatê-las quando vêm
por isso sorrio sonhos que inventam
a alma e o coração em cumplicidade.



Jorge d´Alte

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O NETINHO

Nos meus braços te tenho
tenro neto um amor
olho teu rosto rosado
olhos de uma cor que não tem preço.
Horas te olho embalando-te com empenho
mãos esticadas sacudindo em redor
perninhas fofas movendo-se como arado
quando adormeces sorris um sorriso que agradeço.


Jorge d'Alte