quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O PÁSSARO

 Era uma manhã clara quando o pássaro voou
ainda não sabia o que era mas batendo as asas  procurou.
Voou na planície cheia de flores e arbustos saltitando
os galhos tenros sem idade como ele quebrados gritando.
Assustou-se e pela primeira vez  subiu a montanha
dali chegaria ao cume a um bater de asas uma façanha
Redopiou e redopiou procurando as estrelas- disseram que estavam lá
não as encontrou e desalentado esticou o olhar para de lá.
Viu a paz num horizonte, era um mar de borracha tanto ia como voltava
viu um rio azulado escorrendo nas pedras e na verdura que cantava.
Pousou cansado e sedento
algo pensava dentro naquele relento.
O instinto sobressaiu
a sombra caia como a noite e caiu.


Jorge d'Alte

terça-feira, 27 de agosto de 2024

OS REIS DA AREIA

Eram os reis da areia das dunas sem fim
vestidos de branco e negro nos camelos lá iam.
Tinham olhos esconsos sem cor doridos
neles só havia ódio mártires e vingança.
Num pequeno oásis do seu íntimo havia amor.
Era um amor feito de impotência dor desilusão
era não ter pão e muitos filhos, era vê-los partir.
Dei um passo atrás no meu sonho e fugi.


Jorge d'Alte

TUDO SUPRIMI

Na praia, no só
entre o nascer e o pôr
algures por aí
procurei no silêncio
as palavras que não escrevi
os sentires que volatilizei 
os sonhos que não cumpri.
Olhei o céu crestado de uma cor só
quis voar nesse alto  e compor
a canção de embalar em que caí
por toda a parte esse silêncio
esse momento triste que não previ
amores, ilusões, dores que rezei
fechei a alma e tudo suprimi.


Jorge d'Alte

domingo, 25 de agosto de 2024

DECISÂO

Era criança mas já não o era
Brincava na rua no chuta a bola
traquina e lesto embalado para o sucesso
mas havia alguém que o quisera
isso marcara-o lá dentro da tola
o seu coração queria resolver este abcesso.

ser criança ou adolescente.

Olhou as botas rotas de tanto jogar
viu-se um artista que iria conquistar o mundo
um sonho que sempre sonhara na sua alma
Chorou baixinho para quê sonhar
esbracejou perdido num poço profundo
Algo crescera nele que era feita de calma.

Escolheu nesse dia no sol poente.

Havia muitas coisas para conquistar na vida
sonhos que se esfumavam outros que eram dele
Sorriu para ela quando a encontrou na viela.
Abraçou-a num bilhete só de ida
sentiu e amou o formigueiro da pele
de mãos dadas seguiram de coração á lapela.


Jorge d'Alte








quinta-feira, 22 de agosto de 2024

LINDA PLANTA

Um dia quis ser uma linda planta
enterrei meus pés em terra santa
sorvi essa água benta e cresci
as flores vieram depois quando floresci.
De toda  parte vieram amigos
asas coloridas zunindo; meigos
trouxeram-me novos desafios
deixaram-me coberto de mel em fios
e na doçura e travessura
abracei esse fim trágico
um futuro sem novo sol mágico.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

ERA UM ROSTO DE SAL E MAR

Era um rosto de sal e mar
com dedos afagando no canto do vento
o sorriso perdera-se em dias perdidos.
O intimo chorava nas mãos que lágrimas colhiam
os cabelos escondiam tanto como nada
eram peneiras agitadas fugindo com o passado.
A boca encolhida esperava o beijo com olhos fechados.
Este não veio
ele não era feito de mãos e dedos
era feito de imaginação um boneco grotesco.


Jorge d'Alte

O MENINO QUE QUERIA SER PAI

Uma vez que era
o menino sonhou 
não um sonho bera
mas algo que o determinou.
O sonho seria um dia ser pai
por isso o sonho embrulhou
e como pétala que cai
caiu no solo e desabrochou.


Jorge d'Alte

domingo, 11 de agosto de 2024

A JANELA

 
Quando abrimos uma janela o que vemos?
Olhámos sempre para fora esse espaço de tudo
Viajamos nos sonhos e sofremos
de alegria de tristeza e vemos a felicidade por um canudo.
Gostamos do prazer a que fanáticos chamam pecado
gostamos de céus azuis, negros e de luar
o amor é ingrato pode ser ódio disfarçado
A flor pode ser cortada ou amada no desnudar.
Alguns os mezinhos olham para dentro
vêm as entranhas chocalharem no vazio insaciado
não têm sentimentos, muitas vezes é esventro
sacando medo, migalhas de uma dor que fora amor, adiado.
Dias perdidos olhando sem ver, sonhos de um crer
espremidos até se  sumirem.
Outras vezes abrimos uma janela
o sol bate nela até doer
vimos as pessoas a rirem
a alma vigiar, uma sentinela
bocejamos num novo dia
ele está ali fora da janela
se queremos abraçá-lo não sei
se nos encolhemos dentro numa concha luzidia
e ficamos ali  prostrados, pensando nela
esse ser lindo de que ainda não falei.


Jorge d'Alte


 

domingo, 4 de agosto de 2024

SOFRER

Chamando através dos céus
invoco as estrelas em que se tornaram
vejo a lua na água pura
mas não te tenho a ti no vazio que és.
Tenho a pele salgada de tanto te amar
tenho olhos arrasados de tanto chorar
tremo muito tenho os dentes a ranger
tenho uma ferida cá dentro de tanto sofrer.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

OPERAÇÃO

Vieram as luzes
quando o sono caiu
a faca retalha
como quem corta as urzes
O monstro silencioso rugiu
cortado na batalha
A vida estava onde não estava
esticada entre as sortes.
Monstro de tantas mortes
dele já nada restava.
Vieram as luzes
quando os olhos se abriram
havia paz e tantas cruzes
batas brancas que sorriram.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O BEBÉ

O bebé chorava na alcofa.
Ao seu lado dois cães vigiavam-no.
Nem um nem os dois sabiam porque ali estavam.
Olhavam-se entre eles e aquela coisinha fofa
não compreendiam as lágrimas que atormentavam-no
ladraram em aflição, chamavam.
No súbito o chorar silenciou numa boquinha sem dentes
o bebé mexeu as mãozitas espantado
fez um beicinho desajeitado.
Sentados os cães abanavam a cauda pendentes.
Ganiram de aflição  quando o silêncio se quebrou.
O bebé chorava de novo quando se lembrou
havia fome na barriga
essa sensação feita amiga.


Jorge d'Alte