Quantas
esquinas dobradas,
quantas
marcas guardadas,
portas sem aldrabas,
janelas fechadas…
com vidraças
foscas e rachadas
onde a sombra
do sonho se esmagara como mosquito
esborrachado.
E o rosto
desfigurado sem o saber,
corroído por
estranhas aranhas nas entranhas
a tecer
rosários e teias de ódio e fúria.
Ah! Pois....
e ciúmes
disfarçados, ainda a noite ia pequenina.
Se estrelas
houvera, caíram ali mesmo!
Até a lua era
meia de meia
como cagadela
de mosca na lâmpada que luzia.
Mas também
quem queria essa lua?
Não dizem que
é dos amantes?
(Então
que fiquem com ela e que forniquem)
Amor era
coisa arredada daquela vida.
A mágoa
infiltrava-se pelas rachas da alma
abrindo
feridas com palavras de gume afiado,
como o
machado que racha a lenha de cima a baixo,
e separa.
Corpo seco talhado
a golpes de arte, era ele
do tira ali e
põe de parte
e as goivas
iam cortando meias luas de sentires
incubos dos
pesadelos, sucubos na luxúria.
O pontapé
dado na cadeira virada
(Escape
grosseiro do danado…)
trouxe
espantos, nos ais que se seguiram.
Queria que a
rosa esmagada, antes bela e carminzada
tivesse sido
a gota de juízo que faltava,
mas o mundo
virara tudo do avesso.
Os joelhos
rasgavam-se nos meandros do desespero, dele.
A súplica
arrastava-se na terra esgravatada e arranhada
e as unhas
partiram-se ensanguentadas
na pedra
polida, branca e gelada.
Era coisa que
se fizesse?
Mas fora
feito no auge emocional do desespero – desculpas!
Afinal quem o
mandara amar?
Ela mulher
talhada no gelo fechara-se na concha do belo
e não desceu
do pedestal enfastiada com tanto degrado.
Quem seria
esta intrometida? (era
ele o pensativo)
Nem na mão
estendida pegara,
nem carinhos
de andorinhas chilreantes
cantadas ao ouvido,
houvera. Nada, foi tudo o que esta lhe deu,
mulher da
vida, rameira da amizade,
onde o sentir
dos sentimentos entorpeceu.
Ionona
evolada como véu de violeta rendado da névoa,
era o limite
do olhar com limoselas florescendo nos cantos
e o “dentro”
chorava as dores do mocetão.
Mas afinal
para onde tinham ido as estrelas?
(Não estavam neste
céu, não!)
A noite
espraiava-se na bela aurora que trazia o novo dia.
O pesadelo
iria pôr-se para lá do sono em brumas de memória.
Esquinas,
marcas, portas e janelas… vidraças…
Mas que foi
feita dessa estrelinha de magia?
Essa
companheira de estrada…essa bolinha de algodão doce
de
multi-sabores?
…Pois partira
um dia como trigueira ceifada!
Ai dor dorida
que queimas as entranhas. Vai-te maldita!
Só o sonho a
pode trazer de volta, figura de gás que não se toca,
Apenas se
inventa no desejo!
“A desejada estava ali enterrada, ossos descarnados
de mulher
roídos já
pelo tempo, farrapos daquilo que fora outrora,
num céu azul de
pássaros amarelos e borboletas de primavera;
Uma Rosa encarnada
no meu jardim! ”
Jorge d'Alte
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