segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

PAIXÃO






Fitava as areias abertas e o penhasco distante
Dobras de dunas atrás de dobras e a planície
Quente lençol de linho encardido por vezes agitado
Sentiu o mar de dor a erguer-se – afastou o olhar
Tentou compreender a vida através dos olhos dela
Uma breve agitação da brisa tocou-lhe o rosto – o sol descera mais
As sombras estenderam-se gigantescas trazendo as estrelas e a lua
Ela jazia na rasa erva bela e nua, dourada e suada de gemidos e sussurros
Finas gotículas de som pariam da sua garganta cheia de cio
Rasgara o seu corpo momentos antes com o arder do beijo
Insuflara-lhe desejo, queimara-o por dentro, vulcão crescente de lava ardente
Caçaram naquele céu como predadores mordendo e ferrando
Arranhando arrancando pele lambendo e sugando sangue e seiva derramados…
Foram e vieram num sublime imenso como buraco negro no para lá de tudo…
Ouvira a sinceridade dela nos momentos ávidos
Virou a cabeça - olhou as sombras douradas e borburinhos de poeira
Era isto que o preocupava; poeira de paixão que o cegava
Um estremecimento percorreu-o - vinda das sombras, as sombras dela
Era mancha no seu coração sem despertar de alvorada, cinzenta e fria
Houvera fogo na alma, paixão de luxúria e mel pelo corpo
Fitava as areias abertas e o penhasco distante
Dobras de dunas atrás de dobras e a planície
Em nenhum lado vislumbrava a centelha da vida rompendo o estéril
Em nenhum momento essa centelha fora big bang que o dera a ela
Que o elevara nos céus de luz rompendo a névoa surda que estonteia e tolhe
Amor escrito com o sangue da veia corrente que enche a alma do sereno da paz

Apenas saciou o cio na lua como besta na selvagem.





Jorge d'Alte

Sem comentários:

Enviar um comentário