sexta-feira, 20 de abril de 2018

DEMÔNIOS







Olhei o céu negro varrido de estrelas e luares
Apenas nuvens cheias como seios túmidos a pairar
Lábios secos como fonte que jorrou até secar
Não beijam a madrugada
Não trazem alvorada
Nem as lágrimas de alegria
E os demónios cá dentro sarnando a todo tempo
picam memórias sem ritmo talhadas como destino
Abraçam o desespero tragando o novo dia que não há
Trazem mágoas como vento lamento do que sinto
E esses demónios cá dentro esses demónios que invento
São soro que me dá vida
Que injecta na veia ferida
A bestialidade perdida da vontade de querer
Olho os céus despidos de estrelas e luares
Nus de cinzas sombras do que ardeu
Digo a esse vento tonto que teima em soprar
- Tenho que a deixar partir!
Esse éden sem fio onde escondo do teu ver
É onde os demónios se escondem; malditos
Decompondo o meu ser num desejo de não ser
É muito escuro cá dentro sem a tua vívida centelha
Esse arder que se apagou num estralejar de dedos
E como vermes a roer
São demónios que trago comigo desde a alvorada ao entardecer
E na noite que sobra varrida sem estrelas e luares
Sem túmidas nuvens nem nus de ti para afagar
Os demónios renascem, os demónios que invento
Os demónios que escondo
Frustrações mágoas sentimentos e saudade.


Jorge d'Alte


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