quinta-feira, 12 de abril de 2018

PESADELO DO DESESPERO








Quantas esquinas dobradas,
quantas marcas guardadas,
portas com aldrabas, janelas cerradas…
com vidraças bolorentas  foscas e rachadas
onde a sombra do sonho se esmagara como mosquito
esborrachado.
E o rosto desfigurado sem o saber,
corroído por estranhas aranhas nas entranhas
a tecer rosários e teias de ódio e fúria?
Ah! Pois....
e ciúmes disfarçados, ainda a noite ia pequenina?
Se estrelas houvera, cairiam ali mesmo!
Até a lua era meia de meia
como cagadela de mosca na lâmpada que luzia.
Mas também quem queria essa lua?
Não dizem que é dos amantes?
(Então que fiquem com ela e que forniquem ao desafio)
Amor era coisa arredada daquela vida!
A mágoa infiltrava-se pelas rachas da alma
abrindo feridas com palavras de gume afiado,
como o machado que racha a lenha de cima a baixo,
e separa.
Corpo seco talhado a golpes de arte, era ele
do tira ali e põe de parte
e as goivas iam cortando meias luas de sentires
incubos dos pesadelos, sucubos na luxúria.
A fúria no pontapé dado na cadeira virada
(Escape grosseiro do danado…)
trouxe espantos, nos ais que se seguiram.
Queria que a rosa esmagada, antes bela e carminzada
tivesse sido a gota de juízo que faltava
Mas o mundo virara tudo do avesso!
Os joelhos rasgavam-se nos meandros do desespero, dele.
A súplica arrastava-se na terra esgravatada e arranhada
e as unhas partiram-se ensanguentadas
na pedra polida, branca e gelada sob a sombra da cruz.
Era coisa que se fizesse?
Mas fora feito no auge emocional do desespero – desculpas!
Afinal quem o mandara amar?
Ela mulher talhada no gelo fechara-se na concha do belo
e não desceu do pedestal enfastiada com tanto degrado.
Quem seria esta intrometida? (era ele o pensativo)
Nem na mão estendida pegara,
nem carinhos de andorinhas chilreantes
cantadas ao ouvido, houvera. Nada, foi tudo o que esta lhe deu,
mulher da vida, rameira da amizade,
onde o sentir dos sentimentos entorpeceu.
Ionona evolada como véu de violeta rendado da névoa,
era o limite do olhar com limoselas florescendo nos cantos
e o “dentro” chorava as dores do mocetão.
Mas afinal para onde tinham ido as estrelas?
(Não estavam neste céu, não!)
Aqui chorava-se dor! A amargura e a mágoa vieram depois
Juntaram-se á saudade que ficou
Nos olhos erguidos só o negrume gélido sem calor de alma
A noite espraiava-se na madrugada que traria o belo amanhecer
O pesadelo iria pôr-se para lá do sono em brumas de memória.
Esquinas, marcas, portas e janelas… vidraças…
Mas que foi feita dessa estrelinha de magia?
Essa companheira de estrada… essa bolinha de algodão doce
de multi sabores?
…Pois partira um dia como trigueira ceifada na alvura da vida!
Ai dor dorida que queimas entranhas. Vade retro maldita!
Só o sonho a pode trazer de volta, figura de gás desenhada que não se toca,
Apenas se inventa no desejo!

 “A desejada estava ali!
Enterrada…
Ossos descarnados de mulher menina roídos já pelo tempo,
Farrapos daquilo que fora outrora e a fizera
num céu azul de pássaros amarelos e borboletas de primavera;
(Vá-se lá saber porquê)
Uma Rosa encarnada no meu jardim! ”



Jorge d'Alte


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