segunda-feira, 4 de março de 2024

25 Abril 1974

Acordei num dia nublado
Apertei o meu sobretudo colarinho ao alto
A brisa sonolenta trouxe a neblina que pairava
Fantasmagóricas eram as casas de vidros húmidos
e as pessoas estugavam o passo cá fora pois havia o trabalho.
Foi nesse dia que troquei a mudez pelo cravo
que gritei na voz uma alegria  que desfazia os medos
os medos que calavam, que traziam dor e fome
Nesse dia as lágrimas eram outras num Abril diferente.
Os passos marchavam nervosos nas vozes roucas de ordens
O Povo acordara e nunca mais foi o mesmo
Ergueram as cabeças deixando-as insubmissas
Queriam um país novo sem sangue e fome.
Hoje tanto tempo depois ainda há fome nas barrigas
já não há peitos oferecidos ás balas
e os sonhos se vão como Sebastião no nevoeiro do tempo
As almas não tem fronteiras e partem na esperança
Os filhos crescem numa qualquer terra escravos da vida.
Com os olhos cansados vejo os vampiros pairando de novo
afiam os dentes de ganância
acirram e acenam promessas  que não vêm
e o povo de novo se conforma, esmagando o cravo numa ventura.


Jorge d'alte







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