quarta-feira, 2 de junho de 2010

A nossa maior dádiva

Hoje foi dia de viagem longa e para além das musicas, o silencio começou a pressionar-me as têmporas, dizendo-me que era o seu tempo e que a meditação o viria acompanhar.E por respeito a este velho companheiro desliguei a musica que animava a minha alma tornando-me por largos quilômetros um maluquinho para quem passava pois na minha animação gesticulava e o que era pior cantava e por isso nem as moscas apareceram apesar dos vidros abertos num convite mudo. Enfim não sabem o que perderam! Talvez uma boa dor de cabeça ahah!
Assim o silencio recebeu de bom agrado "meditação" e neste predestinado ambiente coisas boas e más me passaram pela tola. Toda uma vida cheia de peripécias, cheias de altos e baixos, cheia de despedidas de amigos que já partiram mas que ainda vivem na saudade. Pois é!
Dos amigos da meninice já perdi duas mãos cheias,uns muito cedo ainda nos tempos de estudante outros mais recentemente. No entanto outros houve, companheiros de escola e liceu que se deixaram seduzir pela via fácil da vida, que por fim os escravizou, sodomizou, impondo um rumo pré determinado que os levou a dores profundas, à marginalização por parte de todos, grupo em que tristemente me inclui durante algum tempo. Falo das drogas e dos seus malefícios. Das pessoas que antes eram lindas, risonhas, companheiras e que a breve trecho eram apenas sombras de vida. Eu na altura não compreendia como pessoas saudáveis, muitas com um grau alto de inteligência e intelectualidade, se deixavam arrastar neste vicio escravatizante e degradante e acima de tudo destruidor das suas almas e vidas, quando havia muitas pessoas a lutarem em hospitais, sobretudo crianças por apenas mais um dia que já não tinham.
Aprendi com desgosto a conviver com esta realidade e sempre que posso e vejo alguem pela droga subjugado compro a paz da minha consciência e dou um gesto de ajuda. Sei perfeitamente que isto não é nada, não passa de um avançar dos ponteiros, mas sinto que por um lapso de tempo eu alegrei um coração ferido, uma alma perdida mas que no fundo, perdido, tem ainda résteas de vida.
Com o passar dos tempos vamo-nos apercebendo do muito que não fizemos, do muito que poderíamos ter feito, de pequenas coisas que teriam feito a diferença, mas por sermos jovem só olhávamos para o nosso umbigo.
Agora à distância consigo aperceber-me de tudo isto, mas no entanto também lutei muito por um mundo melhor, pela amizade entre os seres por um planeta verde onde a minha descendência e a dos outros, possam continuar a viver e amar!
Está quase a chegar a hora de dar espaço aos mais jovens, aqueles que um dia porque sonharam levarão a humanidade para além das fronteiras conhecidas, para novos mundos, para novas realidades de vida, mas que levem sempre no olhar a ternura humana e no coração a nossa maior dádiva o "AMOR".


Jorge d'alte 2.06.10

1 comentário:

  1. «Com o passar dos tempos vamo-nos apercebendo do muito que não fizemos, do muito que poderíamos ter feito, de pequenas coisas que teriam feito a diferença, mas por sermos jovem só olhávamos para o nosso umbigo.»
    está fantástico *.*

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