terça-feira, 30 de julho de 2024

NASCIMENTO

Ontem foi o dia mais longo
Devia ter nascido na madrugada
mas o preguiçoso bateu o pé
nascendo no luso fusco do entardecer.
Os passos cavaram sons no prolongo
eram nervos que ecoavam em cada peugada
A alma contava o tempo na Fé
O choro gritou foi alegria e virou ser.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 29 de julho de 2024

TROVOADA DE SENTIRES

O calor que nos molha 
o sol que nos malha
a epifania que nos derrete
a trovoada que troa
o relâmpago e a luz
que nos desenha no medo
a chuva que  cai pesada sobre nós
a lágrima que assoma como relâmpago
que traz saudades
que se colam na alma
quando a vida não é esta mas é outra.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 25 de julho de 2024

O QUE SERIA

A morrinha caía
neste meio dia
traçando nas vidraças
múltiplos caminhos.
Os olhos seguiam-nos
qual seria o eleito?
Veio o vento feio
soprou forte e volteou.
No caminho desfeito
o tonto rodopiou 
como cata vento
perdeu o norte
e no desnorte errou.
De toda a parte vieram
tristezas, duvidas, depressão
e do céu do seu coração
caíram lágrimas de aceitação.
Trovejaram desditas 
prostrando-o no chão
com as mãos cavas 
unhas agarrando a terra 
a alma se revoltou.
O corpo se ergueu
mirando o longe 
aí não caia a morrinha
havia sol nessas andanças
havia vida e esperanças
então a voz rugiu
o vento acalmou
o caminho tortuoso se mostrou
algo o animava
o que seria?

Jorge d'Alte

terça-feira, 23 de julho de 2024

OS LÁBIOS

 A lua afadigava-se em crescer
levando os olhos presos na sua cor leitosa.
Tinha nuvens em seu redor balouçando no vento
As estrelas tinham fugido eclipsadas
esta não era a noite delas.
Com o peito radiante a ferver
ela olhava a boca apetitosa
presa no seu tormento
quis devorar aqueles lábios de cor rosadas
mas ele se esfumou como a lua nas nuvens belas.


Jorge d'Alte

domingo, 21 de julho de 2024

SEMPRE

Sempre
Sempre amarei
enquanto amor for amar.
Não o amor que é simulado
tingido do parece que é.
Sempre
com esta ânsia estarei
abrirei o coração de par em par
dançarei essa dança ao teu lado
Com dor felicidade e fé.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 19 de julho de 2024

DLIM DLÃO

Dlim Dlão Dlim Dlão
Tocava o sino o sacristão
era tempo de coletar as ovelhas
dos novos aos velhos e velhas.
Estávamos num domingo
num Maio de meio pingo.
Vi-te ainda criança
cabelo espiga em trança
branca como a macia neve
olhos cavos de azul deleve.
Teu lenço carregado de amarelo
atava-te as bochechas num nó singelo.
Olhando-te devorava-te a beleza
gosto dela tenho a certeza.
Tinha mesmo pois ainda a tenho
décadas depois de com engenho
a ter amado num amor tão apertado
que ainda hoje á lareira a beijo com agrado.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 18 de julho de 2024

BRUMA

Havia á volta bruma
os sonhos onde estão?
Perdi-os nas cinzas do dia
ou nas geadas da alvorada.
Vergado como quem ruma
fui até á solidão
aí sentado no rosário que se desfia
senti a tristeza e a saudade amarrada.
Um nó tão apertado
que o coração saltitava
as sombras que bolavam
seriam sonhos perdidos?
Foi neste momento desgraçado
que depenado de sentimentos estava
que os olhos se derramavam
na agonia dos gemidos.

Quase rastejei como rato banido.
Havia algo no passado que bulia
um sonho nas sombras esquecido
uma palavra gigante que o definia, 
Amor!
Então a bruma se esfumou
O sol gentil se abriu em cor
vi sonhos nos meus sonhos
sem bruma vi tudo o que restou.

A dor que nunca passa
é ferida roída que grassa
o vazio da ausência
um abraço sem resistência
a vontade de me erguer
de nunca me esquecer
que quando cais  e mordes o chão
não é o fim do mundo do coração
Há sempre um caminho
levanta os olhos e vai devagarinho.


Jorge d'Alte











segunda-feira, 15 de julho de 2024

SONHOS

Posso senti-la
dorme e respira
parece sonhar.
Lábios beijam o sono
deixando pairando no breu
algo que também é meu
seu perfume seu encanto.
Olho para ela macia e bela
pele que me embaraça
suave, tórrida, sem rugas tez baça
seu peito herege se ergue
palpitações ecos do seu coração.
Com os meus dedos trémulos toco-a
está quente um pouco suada.
A mente fala com a gente
imagina nas memórias intricadas
momentos onde o amor se cala
momentos onde a paixão se dana.
Fecho meus olhos e vivo-a
afago seus cabelos de cobre
rolos que se espalham pelo seu corpo
afago a sua face de sorrisos tantos
carminados lábios me chamam
mãos com dedos suaves me puxam.
Meu corpo sem tino  se dá
Ouço o seu acordar de mansinho
o seu espanto traquino
o seu erguer nu no meio do linho
o seu abraço sentido.
Amo-te meu amor
também te amo e quero-te muito.
Escutei no murmúrio
como rio que a leva.


Jorge d'Alte



sábado, 13 de julho de 2024

O JOGO

Havia um borborinho
correndo como borboletas
ondas de prazer sereno
que tremiam no meu peito.
Só soube que eram como linho
como doces espoletas
explodindo como dreno
deixando sair deleites a eito.
Se estava no paraíso não sabia
havia o sol das madrugadas
havia tardes com o sol mergulhando
mas havia ainda a noite e a sua lua.
Estava na alcova de linhos onde tudo cabia
Corpos, braços e pernas entrelaçadas
loucuras, paixões, beijos, peles suando
havia o jogo, o das almas, da minha e da tua.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A JANELA QUE ABRI

A janela que abri
deixou o coração respirar
e na boca do beijo
veio o desejo
arco iris por pintar
transformando esse rosto que sorri.
Emoção
paixão
amor
odor
Olhos verdes teus
eram romeus
olhos azuis meus
agradeceram a Deus
e fui amado
no tempo parado
até que a janela se fechou
aí tudo desabou
foi algo transcendente
como centelha apagou-se de repente.


Jorge d'Alte

NASCI PARA MORRER

Nasci para morrer.
Alguém nos pintou 
num dia de mau humor
primeira luz num ponto de sol
e depois a passo de caracol
pegou no pincel com mãos de doutor
tracejou, tracejou, tracejou,
até não saber mais que fazer.
Num semblante de modorra
sobressaltou-se olhando a lua
e em vez de a pintar nua
fez uma porra
pintou e pintou
pores do sol e madrugadas
vivas nas suas cores puras
cada vez mais curtas e amalgamadas
cada vez mais negras e sem curas.
Preto foi a cor que sobrou
pintou o último por do sol com sorte
como detestou 
borrou-o de negro e chamou-lhe morte.

Nasci na luz, vida
morro nas trevas, o além.
Um bilhete só de ida
por quê, por quem.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 8 de julho de 2024

PARADOXO

A chuva que cai
é de mansinho
molhando as cores
no entardecer que se vai
de azevinho
e flores.
O horizonte chocho
tem o sol na sua ponta
saltando as montanhas
um paradoxo
caindo na água tonta
trazendo sombras castanhas.
Minhas lágrimas são chuva
encharca minha alma 
lavando as dores.
o horizonte és tu é uva
doçura que me acalma
trazendo pudores.

Amo o amor que amei
traço esse rosto que afaguei
mordo esses lábios de mosto
e aí me perco nesse gosto
em cada sentir
em cada despir
nessa cama de esperança
tornando-me de novo criança.


Jorge d'Alte