quinta-feira, 11 de julho de 2024

NASCI PARA MORRER

Nasci para morrer.
Alguém nos pintou 
num dia de mau humor
primeira luz num ponto de sol
e depois a passo de caracol
pegou no pincel com mãos de doutor
tracejou, tracejou, tracejou,
até não saber mais que fazer.
Num semblante de modorra
sobressaltou-se olhando a lua
e em vez de a pintar nua
fez uma porra
pintou e pintou
pores do sol e madrugadas
vivas nas suas cores puras
cada vez mais curtas e amalgamadas
cada vez mais negras e sem curas.
Preto foi a cor que sobrou
pintou o último por do sol com sorte
como detestou 
borrou-o de negro e chamou-lhe morte.

Nasci na luz, vida
morro nas trevas, o além.
Um bilhete só de ida
por quê, por quem.


Jorge d'Alte

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