quarta-feira, 21 de outubro de 2020

PEQUENA LARANJA

 



A pequena laranja rolou aflita apertando seus lindos gomos como coração
Sentiu a leveza do rolar até á berma do sentir
Não sabia se chorar se rir porque nunca sentira nada assim.
Aliás nunca sentira nada de nada, nem sabia o que era sentir.
Afinal sentiu que sentira num dia de muitos dias.
Surpresa, apertou mais os seus gomos tenros e túmidos, num gesto desmedido de amor
Interiorizou o seu corpo roliço depois de ter sido flor.
Recebera o seu sêmen de pólen num entardecer de Agosto
Quando acenara as suas pétalas pintadas em seda.
Recordou esse momento de ardor de paixão
Beijou-o como só as flores sabem beijar colorindo os seus lábios com as cores do arco-íris.
Soubera que já era mais do que era quando as sementes cresceram.
Guardara-as dentro de si, para si, egoísta, sabendo que já não eram mais dela.
Por isso caíra lá do alto depois de se despedir das folhas que como berço a protegiam.
Sentiu mãos suaves pegando nela, despindo-a, soltando as suas sementes no vento da sorte.

Jorge d'Alte

Sem comentários:

Enviar um comentário