sexta-feira, 9 de outubro de 2020

COMO POSSO NÃO SORRIR

 

Caminhava nas memórias encimando as mais belas.
A janela emoldurava-a recortando-a em doces mates de róseos.
Peles que eu afaguei nas noites passadas de verões lunares.
As estrelas brilhavam aguerridas piscando como pulsares
Mas eu tinha-a como vida da qual não me consegui despegar
Fora num dia parecido com este...como posso não sorrir?
As sombrias sombras da noite ainda não o eram bem
Os nossos olhos traçaram a ansiedade e vulnerabilidade
Curvaram os corações na atração chutando para longe o medo e a incerteza
E ali estavam sedentos lábios de rubi que osculei hesitantemente.
Tínhamos apenas os anos tenros que tínhamos
Sabíamos que gostar era assim, o que não sabíamos era que era tão forte.
O medo gelou-nos no milésimo e no milésimo soubemos que eramos a vida um do outro
E fomos e somos como mar que se agarra á terra
Tantas as dores sofridas que deixamos para trás mas que nos roeram e feriram a pele
Tantas coisas bonitas que nos fizemos, raízes que nos prenderam, faróis que nos guiaram.
Como posso não sorrir se estás aqui ao meu lado?
Peles de róseos mates enrugadas quanto te zangas e lisas quando me sorris.
Senti aquela mão que tantas paixões conquistou de mim tocando-me serena e tremente.
A doença colhera-a no seu quintal de memórias retirando-lhe o reconhecimento.
Todos os dias me vai esperar á porta da rua...
Mas que interessa isso?
Ela está aqui e eu amo-a!


Jorge d'Alte

 


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