sexta-feira, 28 de junho de 2024

ASAS PARA VOAR

Quando nasci chamaram-me de anjinho
mas sem asas como poderia voar neste céu
onde dizem que eles voam numa dança que é só deles.
Seria que tinha asas mas que não as via por serem translucidas?
Fiz perrice diante de Deus e fiz as minhas  asas com papel e trapos.
Subi a montanha que me deram e chamaram-lhe vida. 
Havia por ali horizontes que eram os meus sonhos
havia um que me punha as pernas moles e o coração a bater
Era feito de luz
era feito de dor e paz
era feito de amor.
Soube então que não era anjinho
que não tinha asas por pecar
que não podia cirandar pelos céus
que tinha algo que muitos não tinham
Coração a vibrar
amor para viver
e quando a morte sobrevier
Asas para voar.


jorge d'Alte

INTROSPECÇÃO

Com a cabeça entre as orelhas
introspectei o meu mundo.
Nele havia um prado
onde o vento fazia balançar os ramos.
No lago pintas de luz  e ovelhas.
Aqui neste berço fecundo
guardei memórias de agrado
na lama do que é verdadeiro sonhamos.

Senti o coração chorar
longe dos olhos que me amam
senti a saudade  derramar
entristecer nas lágrimas que não acabam

Longe amo o teu beijar
perco-me nos teus olhos imensos
nos abraços ao luar
memórias que coloco como pensos.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 27 de junho de 2024

VIDA

Quando o céu tocou na terra
viu as estrelas e buracos negros
mamando-as no negro gélido
O mar espirrou e alteou
ondas subiram montanhas
deixando um lamaçal de terras
com sal e espumas e vida.
Quando a beijei
o amor  apanhou-me 
ondas de alegria e felicidade
varreram todo o meu corpo
incrustando no ventre a vida.


Jorge d'Alte

terça-feira, 25 de junho de 2024

FOI NUM DIA COMO O DE HOJE

Foi num dia como o de hoje
com as nuvens vogando na meia tarde
que encontrei um novo trilho
escavado na paixão e no arroje
metade de um sonho e realidade
que "botou" o coração num afogadilho.
Tomei o rosto nas minhas mãos e beijei
faces de pele fina como cetim branco
arranquei o teu sorriso com os lábios
senti o teu peito adejar a arfar.
e com emoção com o que encontrei
saltei nesse risonho barranco
dancei essa dança de sábios
até o entardecer se finar.

Foi num dia como o de hoje
que amei e comunguei esta realidade
um novo trilho que percorri
que me levou até ti e á noite que sobreveio.


Jorge d'Alte


segunda-feira, 24 de junho de 2024

É MEDO

É medo o que sinto.
A espera é assim.
Com a mente me terrífico
A duvida atrai-me e trai-me
Não posso viver sem vida
Não tem cor específica
Tem suor e mãos molhadas
O sorriso que espraio 
é medo acagaçado
O coração enrugado
treme-me nas pernas e nas mãos
No rosto a calma lavra
sem sentir a alma a morder.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 19 de junho de 2024

NUNCA CONTEI OS MEUS PASSOS

Nunca contei os passos
que me levaram ao pôr da vida.
Vivo agora no crepúsculo
até que a noite eterna me recolha.
Contei sim as alegrias e os sonhos.
As alegrias ficaram nas nuvens que criei
ilhas e ilhas de extrema felicidade
que vogam no tempo como passado. 
Não tenho medo não tenho sombras.
Nasci das lágrimas quando gritei
e logo aí dei o meu primeiro suspiro
há de ser igual ao meu ultimo
também gritarei no absurdo
e as lágrimas secarão no gelo.
Houveram sonhos no permeio
esgrimi-os no campo da realidade.
Uns eram amores que amei de verdade
outros eram sonho sem realidade
outros eram apenas sonhos.
Acordei todos os dias a pensar
que amei mais do que ontem
criei memórias e palavras que bordei.
O coração está cheia delas 
correm-me no sangue 
correm nas savanas e nas estepes.
Levaram-me nessa nau até ao fim dos fins
depositaram-me neste crepúsculo
como alma como musculo
como áurea que  tremelica
tremelica e tremelica 
até que um dia se apague.


Jorge d'Alte





sexta-feira, 14 de junho de 2024

O ÓBVIO

Entre o nascer e o morrer existe a vida.
Um traço, um troço, uma montanha, o céu.
O dia também nasce e morre no por do sol.
O pio calou no medo e o dedo apontou a Lua.
O coração tem dois rios, o vermelho, o sentimento
O sorrir tem encanto e exorta a paixão a arder.
Chamas são inferno ou amor terno, eterno.
Beijar é o big bang do amor.
Depois tudo é canção e suor.
Ai nasce o amor e nasce  a vida até morrer.


Jorge d'Alte

terça-feira, 11 de junho de 2024

TELA SEM FIM

Seria ela
apenas a mais linda
a aguarela
que o coração deslinda
em traços que a mente pinta
em sombreados
gomados nas cores de tinta
em lábios esfomeados.
O corpo tremelicava
no carinho de mãos
na pele que se cava
como refrãos
da musica mais bela
numa rede de paixão
luz que bruxuleia como vela
apertando o coração.
Esbocei-a á luz do dia
quando a imaginação se acendeu
pintei-a com cores de quem sofria
acabei-a quando a voz me doeu.
Depois veio a noite cava
as duvidas a tristeza
a chuva que tudo lava
destruindo essa beleza
que um dia sonhei
que um dia quis para mim
porque amei e dei
numa tela sem fim.



Jorge d'Alte


sábado, 8 de junho de 2024

VOAR

A chávena de café 
fumegava sozinha
A mesa onde estava
era a mesma onde alguém 
estivera sentado.

Talvez fumando rapé.

A sombra  dele estivera ali pertinha
que meio lado do sol quebrava
ia agora muito mais além
sem vida sem vontade esgotado.

As sombras não têm sorriso nem fé.

Antes houvera um tesouro
uma alma predestinada
Era um corpo magro mas lindo
era um naco de sabores sentimentais

O amor é isto  é o corpo a arder.

Por isso era sombra uma voz de besouro
a minha luz bramia angustiada
lá onde os anjos se amam num tempo infindo.
Ela era o meu anjo com asas de pardais

Voar era destino depois de a perder.


Jorge d'Alte




quinta-feira, 6 de junho de 2024

O PEQUENO IMBERBE

Ela chamou o pequeno imberbe
pois era de longe o mais lindo
quando sorria mostrava a sua alma
quando abraçava era por demais.
Ficara presa na sua teia de moço
garoto pretendido pelos demais.
Era o mais inteligente da sua turma
muitos o abominavam na chacota
Ele era sereno
não era veneno
era um torrão de sentimentos
que falavam no beijo
as mãos que acariciavam  o queixo dela
eram as mesmas que falavam de amor.
Agora era o momento atrozmente desejado.
Queres namorar comigo?
Só sei que te amo
que te quero meu
nem que parta a espinha.
Foi no meio do sol dividido no dia
que ele sorrindo a chamou 
Depois aconteceram muitas histórias.



Jorge d'Alte

quarta-feira, 5 de junho de 2024

DESOLAÇÃO

Um dia novo sem dia
um dia sem noite de breu
as estrelas fugiram por aí
o luar bocejou e amuou.
Foi por aí que fugia
para longe do meu céu
a vida caiu quando caí
do que era nada restou.
Não sei se adormeça 
sem sonhos na cabeça
não sei se há vida
quando chegar a partida.
Escondo-me de mim
a minha alma é assim
escondo-me da morte
faço figas que tenha sorte.


Jorge d'Alte

terça-feira, 4 de junho de 2024

UM NOVO FUTURO

Junto ao cais
de olhar perdido
no lenço branco 
que acenava dorido
quase no infinito.
De cara lavada
das lágrimas que fogem
a saudade come a ausência 
que lá vai na água que corre
levando o lenço branco
na ponta do sonho, os pais.
Um lugar melhor
um futuro de Deus
e neste adeus fica quem sofre.
De pés descalços
o garoto dá meia volta
volta a ser ele mesmo
pequenino na escola,
na casa junto com os animais
ele chora dividido
a alma diz para ir
o coração para ficar
e na duvida com a tarde que se vai
dá de comer ao avô á avó
mais tarde sentado dá-lhes carinho
pois a noite fecha-lhe os olhos
num sonhar no meio das pedras de granito
nas ondas verdes e do trigo
que restolha suas preces
no silêncio que o incendiou.


Jorge d'Alte