sábado, 26 de outubro de 2024

UM DIA TRISTE

Um dia triste.
Meu coração não sorri.
Não encontro as memórias
não sei dos sonhos
tentei cantar, espantar demónios
mas elas andam como o sol
no meio das nuvens e das sombras.
São como folhas caducas ao sabor da sorte
um baralho de cartas
com que jogamos ao minuto as nossas vidas
um relógio de areia que escuma esse mar que somos nós
onde existimos ao sabor das ondas
num vaivém; a gaivota que nos leva ao horizonte.
Talvez ai me encontre
talvez ai possa amar
em amizade, em paixão
em sentimentos oferecidos
nos linhos brancos
nuns lábios rubros
num abraço que se dá.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

A AMADA

Arde o sol enquanto escorrega para o horizonte
surge a lua em quarto minguante ofuscando estrelas
sobem as marés nas ondas de alvas espumas
pedem ao vento que as ajude que tragam as memórias.
E sentado na rocha limosa estou eu olhando o infinito
encharcado de saudades de ti a mais bela das moças.
Teu rosto que afaguei
teus lábios que beijei
teu corpo que amei
jazem ali na terra mole de tantas lágrimas que verti.
Rezo na dor
porque dói tanto?
Despedimo-nos no dilúculo de mãos agarradas
choveram palavras cheias de tudo que agarraram a voz
prometi que a encontraria um dia na porta dos céus
a nossa eternidade
pedi-lhe que não fosse
que me iludisse
que não desgarrasse a minha mão
pedi-lhe então com a cabeça enterrada no seu colo
que procurasse nas estrelas a minha mãe
lhe dissesse que a amava também que estava cheio de saudades.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

DORES


Hoje chovem folhas esmaecidas
leva-as o vento
calmo e sedento
mas cá dentro adormecidas
estão as saudades que me fintam
trazem memórias que gritam.
Não as quero recordar
quero apenas escapar
ás dores que á volta gravitam.


Jorge d'Alte

terça-feira, 22 de outubro de 2024

OCASO

Hoje caiu o sol e a vida foi outra.
Dizem que foi o vento que empurrou as marés
que convidou as nuvens e as chuvas para outros lugares
e lá está ele garboso caminhando para o ocaso, como eu.


Jorge d'Alte

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

MINHA LINDA ENAMORADA

Minha linda enamorada
de olhos tão doces 
um coração aberto.
Colhe-me no limbo do colo
com sorriso desperto
na boca do beijo.
Ama-me nos linhos desfeitos
busca-me na Lua crescente
naufraga no sol poente.
Corre nas praias do norte
sente nosso vento na face
solta essa fúria da alma.
Ama-me á tua maneira
deixa-me afagar-te tão bela
cheia de espinhos e doçura.


Jorge d'Alte

sábado, 19 de outubro de 2024

Ó FLÔR LINDA

Ó flor linda, encarnada cheia de paixão
abraça-me com teu perfume de lume
incendeia-me a alma,  o meu coração.
Deixa a lua cantar-te, minha canção de amor
a tal que escrevi na noite e que trago comigo
desde a madrugada esfriada, até ao sol se pôr.
Ó flor linda, perfumada, fogo de paixão
enraizada e bela que estás, no meu coração
ama-me no tempo que estamos, no vento levados.
És a Flor cobiçada, na terra dos amores
és aquela mais linda que nunca olvidarei
a que vive na alma como linda dor.
Foi em extrema tristeza, que te senti morrer
e no teu olhar sem luz cego me senti
só, e na saudade eu vagueio, porque te perdi.


Jorge d'Alte

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

NÃO QUERO TRISTEZAS

Não quero tristezas
encerro-as em mim
por de trás da lágrima
quero alegrias, sol, luas e rezas
quero-as queimando assim
não quero essa lástima.
Carpi muitas vezes a mágoa e a dor
um oceano vasto que me engoliu
deixando meu coração devastado
Vivo num limbo mediano como roedor
roendo num lado e noutro e tudo ruiu
cavando um túnel cheio de sonhos do passado.
Quero sorrisos
quero-os omissos
da lama moldada
sorver uns lábios de namorada
que me levem até dentro de ti
e aí ressuscitarei como quando te vi.


Jorge d'Alte
 

domingo, 13 de outubro de 2024

ÁS AVESSAS

Havia lá junto ao céu
um lencinho a voar
Quando eu olhei para ele
ele estava-me a acenar

Eu fui ao cimo do monte
o meu amor encontrar
No seu rosto vi o sol
Na sua boca o luar

Cantarolava junto á cachoeira
onde nos costumávamos encontrar
Havia pingos de felicidade, era amor
era a dor de esperar na madrugada soalheira
era a ansia de te poder abraçar
de te poder beijar nesse altar-mor.
Ei-la que vem como pena suave 
esvoaçava ladeira abaixo
num sorriso cheio de promessas.
Abraçamo-nos cheios de palavras num conclave
traçamos o futuro ali debaixo
mal sabendo nós que tudo sairia ás avessas.


Jorge d'Alte



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

SERAFIM

Serafim mendigara nas águas, nos ventos, nos frios
os dias de sol e céus estrelados eram o seu teto
tinha dias que comia e muitos de passa fome.
Crescido e alto para a idade, mas que idade tem um tonto
falava com os animais afagava as flores e cantava ás abelhas.
Era um menino que todos amavam mas queria ser livre
viver na natureza como viera ao mundo, chapinar nos rios
aprendera a amar como muitos poucos no seu mundo de afeto
Junto á fonte matava a fome
tinha sido com um livro, um conto
que todos liam nas suas centelhas.
Hoje já não corria, embrulhado nas flores descia á terra, livre.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O ORFÃO

O órfão era ele
puto de dez anos
vivia de porta em porta
dormia com uma manta rota
sob um céu estragado, aquele
não tinha estrelas nem luares bacanos.
Não tinha lágrimas para chorar mas que importa
visitava seus pais na pedra musgada e torta
depunha beijos de saudades
abraçava-os deitado na laje.
A escola prendia-o na lida dos números e letras
havia Natal nela havia prendas e ele?
garotinho envergonhado fazia suas habilidades
enchia papéis recortados com frases lindas, como um traje
os colegas olhavam e riam, ele era o órfão, o resto eram tretas
Havia bolos que  adorava, mas aquele!
O amigo era outro
puto de dez anos
era o seu abraço, rico como o bago
era risota no recreio alegria que ele esvaziara
gostavam de ler num género neutro
eram como dois manos
Nesse dia um afago
faria parte da família dele, numa amizade que enraizara.


Jorge d' Alte

terça-feira, 8 de outubro de 2024

MUNDO ANACRÓNICO

Ainda agora a água lavava os vidros
enquanto o sol fugia para algures
locais remotos anidros
locais misteriosos cheios de agoures.
Comicham a alma de tenebrosos alquimistas
que tornam corações despenhados
vitimas infames de oportunistas
nas rezas e mezinhas por dez reis mal coados.
Num amor alcançado cobram por  isso
feiticeiros sem feitiços, um escarro
quando a amada tem o compromisso
de amar sem amar e meter tudo no jarro.

Há olhos marejados na beira mar
olham bem fundo esse verbo amar
aprendizes de sonhadores
que como imberbes pescadores
pescam esse mel em lábios dados
caindo depois aos bocados
nas garras desses endiabrados amores
como imagens gatafunhadas cheias de cores.


Jorge d'Alte













domingo, 6 de outubro de 2024

O MACAQUINHO

 Era um macaquinho e não o era
- Imitava!
Chorou quando nasceu
respirou quando gritou
e como todos falou e andou.
Hoje imita os velhos
Arrasta os pés  e os artelhos doem
vê o que quer  ouve o que lhe convém
mas lê com amor cartas de outra era.
- Criança!
Foi uma criança cheia de sonhos
misturou letras com números e cresceu
brincou na imaginação, cantou feliz
- Adolescente!
Apaixonou-se por uma ela
quis ter um futuro mas ainda o tempo não era.
Chorou umas lágrimas diferentes tinham dor e dor
não se resignou olhou o horizonte e caminhou para lá.
A tristeza veio depois nas noites longas sem calor
- Adulto!
Tornou-se num jovem culto
tinha lábios para beijar um corpo para amar
corria para o horizonte onde o sonho o levava
Escreveu cartas e mais cartas á sua amada
quando nos frios da guerra lutou.
- Hoje!
Vive com a saudade nos olhos
- A Amada!
Partiu numa madrugada, descarada com a morte.
- O Tempo!
Parou nessa madrugada
deixou angustia, tristeza, perda
um sol parado na geada, o gume cruciante
a obrigação de viver até um dia.


Jorge d'Alte

sábado, 5 de outubro de 2024

GOSTAS DO OUTONO?

É um tempo de folhas caídas
varridas pelos ventos p'ra berma do caminho
De águas caindo e lá vão elas á boleia
rodopiando no rodopio.
Folhas encardidas em tonalidades esvaídas
como as cores que no meu íntimo acarinho
É tempo do tempo frigido que enleia
almas ao fogo e ao pavio.

Gostas do outono?
Ela aconchegou-se num ombro querido
Sorriu num sorriso lento e ternurento
saqueou os meus sentimentos como meu dono
beijou-me como se faz e com um punhal desferido
rasgou-me a alma deixando-a como as folhas ao relento.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

ESPERANÇAS

Quando os olhos se cerram
e tudo fica dentro da tristeza
memórias choronas de dores e saudades
que doidas e pútridas me ferram
apego-me á esperança que dança com leveza
chamando minha alma das adversidades
numa valsa sem sonhos num mar de trevas
na luz que nos fins reluz a medo
medos  e dúvidas sangrando sem sonhos
e aí estou eu nu de mim sem peles nem entrevas
sem braços para a agarrar no degredo
No fim do arco iris há esperanças aos molhos.

A minha és tu que beijas meus olhos abertos.


Jorge d'Alte