quinta-feira, 20 de agosto de 2020

DIÁLOGO

 


Ordenei à razão, que parasse

a sua cacofonia. Não quero saber!

grita o coração e risca

a perpendicular. Até aqui sou eu!

Tu és o ali, o acolá!

Com faca de talhante corta a eito

de cima para baixo separando-me do peito.

Dependurada, a razão pica

Vez o que fizeste?

Tu coração és cego

como farol dum calhambeque.

Eu sou a auto-estrada segura

onde nunca ninguém se perde,

eu penso!

Tu apalpas, caindo vezes sem conta

tropeçando a cada instante,

numa qualquer raiz…

Cala-te! Eu sinto o que tu não vês,

tu vestes-te de branco e preto

onde fica o cinzento?

Tu és quadrada e opaca,

no translúcido eu sou a tua sombra

e esgueiro-me como lebre,

por ente os teus ponto final

e interrogações. A minha trajectória

é a diagonal! O sabor é esticado até aos limites,

sou como sol e na minha gravidade

todos giram. Estás louca é o que é!

A razão tem sempre razão!

Por isso sou perpendicular

o meu ângulo é recto o teu é circular.

Enquanto ferves nesse amor,

eu gelo o teu calor e domino-te

como domador. Que dizes?

Não venhas com mansas falas!

Não te a trevas a seduzir-me!

Está quieta, não digas isso…

Eu sou a razão! Mas tens razão!

Eu amo-te coração!


Jorge d'Alte

 

 

 

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