quinta-feira, 20 de agosto de 2020

PORQUÊ?

 


Tangendo, a corda soltou

um acorde de notas insatisfeitas.

A clave caiu com estrondo.

A barbárie aconteceu.

Gritos eram dardos arremessados

que espetavam trespassando.

A névoa toldou o espírito,

as sombras caminhavam apressadas,

a vozita prostrada soava aflita,

vendo o sangue vermelho que brotava…

A fonte árida e seca momentos antes,

jorrava montes de esguichos

por onde a alma se escapava.

A voz movia-se no eco do silêncio,

o peito amarfanhava-se

sacudido por tosses convulsivas.

As mãos enclavinhadas tentavam segurar

pontas de vida num relógio quebrado.

As horas já não corriam com o vento

os minutos quedavam-se em cada arquejo,

areias escaldantes deste deserto.

Os segundos eram tudo no desejo.

Vieram os anjos na sua alvura,

as trompas tocaram a desdita,

o céu caía sombrio cada vez mais perto

e a luz alva invadiu o espírito.

Trouxe a serenidade a esse rosto de menino

tantas vezes inquieto,

levando na volta, o seu sopro de vida.


Jorge D' Alte

 

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