sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O FIM

 


Saíra de casa com a sua sombra companheira

Não pela porta; a janela aberta sim.

Os longos caracóis como os cachos de uvas pintadas

Brilharam fugaz na semi-lua aninhada na nuvem passageira

Olhou receoso que os seus passos gritassem a sua dor

Na noite escura que o abafava

Olhou-a na contra luz naquele cimo penoso

Onde as lágrimas o olhavam, no rosto dela

Gemeu o nome dela com a luz do coração

O rosto moreno torneou em volta até ao gemido

Raiando fés e esperanças nas mãos contorcidas

Os lábios morderam-se ferindo-os nas palavras roucas

Porque partes?

E o amor?

Mendigaram-se de afetos na última vez de sombras unidas.

O raio da alvorada encheu plena, a clareira

Mesmo no momento da despedida

Ele ficou olhando o cheiro dela que se ia

Quinze anos tinham crescido com eles

A ferida casquinou na sua desdita deixando-o ali

Como folha indecisa que o vento sopra.

 

Jorge d’Alte

 


Sem comentários:

Enviar um comentário