Saíra de casa com a sua sombra companheira
Não pela porta; a janela aberta sim.
Os longos caracóis como os cachos de uvas pintadas
Brilharam fugaz na semi-lua aninhada na nuvem passageira
Olhou receoso que os seus passos gritassem a sua dor
Na noite escura que o abafava
Olhou-a na contra luz naquele cimo penoso
Onde as lágrimas o olhavam, no rosto dela
Gemeu o nome dela com a luz do coração
O rosto moreno torneou em volta até ao gemido
Raiando fés e esperanças nas mãos contorcidas
Os lábios morderam-se ferindo-os nas palavras roucas
Porque partes?
E o amor?
Mendigaram-se de afetos na última vez de sombras unidas.
O raio da alvorada encheu plena, a clareira
Mesmo no momento da despedida
Ele ficou olhando o cheiro dela que se ia
Quinze anos tinham crescido com eles
A ferida casquinou na sua desdita deixando-o ali
Como folha indecisa que o vento sopra.
Jorge d’Alte
Sem comentários:
Enviar um comentário