segunda-feira, 24 de agosto de 2020

PANDEMIAS

 

Os sinos não tocaram para lá da meia-tarde.

As sombras tinham começado a comer o sol.

As ruas silenciosas eram pasto dos insetos.

As andorinhas flirtavam ganindo nos seus chilreios.

De onde a onde o lume crestava chaminés fumegantes.

Afinal havia vida esconsa recheada nos seus medos

As janelas cerradas da aldeia alva ou de pedras graníticas

Guardavam histórias dos tempos idos dos avós…

No meu tempo quando era um moço a pandemia grassou

Roendo peitos nas dores convulsas, criando corpos gelados por aí.

A fome era vício, o pão molhado nas migas de vinho fino

Era o atordoador das mentes orantes do Pai-Nosso-Avé Maria

Os campos verdes e tratados eram silvados purgatórios do ganha-pão.

Aqui e ali as vozes suplicavam a Deus e as pazadas de terra seca

Adivinhavam o corpo que descia.

 

Jorge d’Alte

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