segunda-feira, 20 de maio de 2024

FLAUSINA

Ela era a flausina
gastava o espelho
com deboches de pinturas
cremes, rimeis e depilações.
Ela era o que era porque era bela
todos corriam por ela entre nãos e meio nãos
mas no intimo ela amava a apoteose.
Dançava alheia
no meio do fumo
copo na mão
coração seco 
sem emoção.
A noite correra lesta
sem beijos nem abraços
nem amigos
nem palavras de desperdício.
Houvera um momento
só um momento mágico.
Uns olhos olhavam-na irónicos
um corpo lindo engalgado
um sorriso bah! amordaçado
sem palavras ou gestos.
Sentira algo tão estranho
dentro dela algo despertara
seria o tal amor, a paixão que tudo traga?
Não o soube
fora um momento.
Depois veio o frio de novo
enregelou-a como vento caminhando
a tristeza e a mágoa doíam-lhe.
Depois ardeu num fogo sem se ver
uma voz encantou-a
o sorriso comeu-a
o beijo tropeçou no desejo
as mãos se deram.
A noite era brava com nuvens de descarga
soube que havia ali uma estrela e não era ela.
Amou-o entre lençóis brancos da cor da sua pele
beijou-o como o eco
seria um sonho?
Porque o agarrava?


Jorge d'Alte



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