domingo, 24 de janeiro de 2021

UM AMOR EXTRAORDINÁRIO

 



Um amor extraordinário
Tinham dito por ali
De olhares tristes cabisbaixos
Enquanto o dia se  esconsava
Num mar de papoilas
Recordavam-se as pessoas 
Nesse ópio avermelhado.

Fora num dia parecido
Logo de madrugada 
Quando o som do galo ainda ecoava na geada
O culpado tinha sido o pico
Sim o pico
Pois quando passava, o melro de bico amarelo esvoaçara
Assustando-a 
E ela picara-se na roseira branca de bordos róseos
Mesmo na dor as vozes saudaram-se enervadas.
Ficava sempre assim quando a via passar, gaiata
feliz.
Seus olhos risonhos sempre o cativaram
Ele um cachopo que quisera ser livre
ter a liberdade de sonhar.
Beijara o dedo dela  no sitio da picada
Mas foi quando os sorrisos se encontraram 
Que tudo descambara 
Num mundo para eles desconhecido e vibrante
Os lábios tinham-se comungado e a liberdade voara

Alguns ainda se lembravam
Pois as idades eram as mesmas deles
Correndo pelas ruas cheias de sombras
De sacolas ás costas trazendo atrás deles as risadas
e as saudades de meninos e moços.
A vida fora cheia para eles
Agora amortalhados a meio dos noventa.

As vozes tinham gritado furiosas
Riscando nos fungares  a sua desdita.
Fora a vontade de Deus
Diziam uns.
Foi o maldito bicho vociferaram outros
Juntos na vida, juntos na morte.

Coitados já andavam adoentados murmurou o António da Micas
Toda uma vida plena de Amor ajuntou o Serafim da pipa.
Aconchegaram-se no seu cantinho e definharam
foi o que foi.
Foi com um abraço que se despediram aflautou a Ritinha.
Um amor extraordinário garantira o padre  embargado
no alto do púlpito
Um amor extraordinário.


Jorge d'Alte









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