quinta-feira, 11 de junho de 2020

RATINHO




A linha cinzenta da alvorada era mais brilhante
Marcava o meio do outono que viera lesto
Folhas mortas varridas pelo vento juncavam jardins cheios de crianças e ele
Uma ave gorjeou na árvore muito acima delas e dele
Levantou voo amuada nos olhos celestes dele correndo com a brisa que esvoaçava cabelos de fogo.
Levara o pensamento dele naquelas asas negras de melro desenhando em cada batida um sonho novo para ele.
Ele era como sempre fora a timidez de pessoa em faces rubras com olhos submissos
Um ratinho perdido roendo as sobras da alegria dos outros vivendo nos sonhos como salvador de mundos desmaiados.
Aí era cavaleiro destemido e orgulhoso – Podia sê-lo pois não havia rostos -.
As asas de mariposa cresceram em tons de prata e voava nas nuvens de cima
Aí os cabelos de fogo fundiam-se belos com os raios de sol que escorregavam
Seu rosto morria para ganhar outra vida olvidada no antes que ele era
O ratinho era ave de rapina caçando nos céus lendários
Monstros imaginários em castelos nublados na mente dele
Ora alvos ou cinzentos ora negros como a morte em sua alma faminta do despertar.
No arco-íris dele encontrou o sorriso como espada que empunhou
Olhava fora de sonhos sua Dulcineia de olhos doces de mel
Nos olhos de céus azuis, voava agora o dela, fundindo-se
Abraçados num jardim cheio de crianças e ele e ela.


Jorge d'Alte


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