terça-feira, 2 de junho de 2020






Virus


Olhos escusos, agros, desmaiam na incerteza que paira.
Procuro esse Adamastor nos virares de esquinas.
Ruge ventos, roendo ruas vazias onde ninguém é rei.
Caem secas essas lágrimas, despojadas da cor da sua vida.
A lei baralhou-a execrável, cruciando-a na barbárie do terror assumido.
Olhares perduram em janelas erguidas de cortinas fartas de rostos.
Joelhos caem no chão puro e arrastam-se na míngua por ar,
E as veias incham na boca aberta, num corpo sacudido.
Tosse vermelho, no apego á vida que escorre esmaiada.
A máquina veio cheia de tubos inseridos, num arrepio de desdita.
Os olhos desgastam-se na visão que partiu mesmo na ponta do apetecível.
O fim está ali esticado no vai-vem da luz modorra da morte,
Como mãos erguidas numa prece que não se quer vã.
A luta não tinha terminado, pois a boca sorriu no esgar da vontade
O coração empunhou a sua espada, e no retalhar, o sorriso voltou.

Jorge d'alte

2/06/20




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